
Por Mariana Ramos
Nas estatísticas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023, apresentado nesta terça-feira (16), apontou a média, mínima e máxima das diferentes áreas da prova. Em matemática e suas tecnologias, a maior nota foi 958,6, resultado alcançado pelo pernambucano Douglas Marinho. O jovem de 24 anos descobriu que obteve a nota máxima de matemática no dia 16 de janeiro, quando os resultados do exame foram divulgados. Além do resultado positivo em exatas, Marinho também conseguiu 960 na redação do Enem, com teve como tema “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
O estudante conversou com o Vai Cair no Enem sobre esta conquista e contou que, apesar de saber que tinha acertado muitas questões de matemática pelo gabarito oficial, estava ansioso pela nota, tanto de exatas quanto a de redação. “No dia que saiu, foi uma surpresa. Apesar de saber a quantidade de acertos da prova de matemática, eu 'tava' bem ansioso também com a nota de redação. Eu sempre tive uma facilidade maior com exatas e redação sempre foi um problema”, conta o rapaz.
O estudante explica que esse não é o primeiro vestibular dele, mas o nono. Desde 2015 Douglas realiza a prova, mas os primeiros dois anos como treineiro, e sete anos valendo. A sua meta é cursar medicina e estas notas podem significar a realização de um sonho. “Eu fiquei muito surpreso. Não estava esperando. Até porque, eu venho de uma sequência de sete 'Enem’s'. (...) Mas, eu sei que foi fruto do meu trabalho, fiquei bem surpreso e satisfeito, sabe? Sensação de dever cumprido”, afirma. Marinho explica que, ao longo desses anos tentando, ele não desistiu por “não ficar satisfeito quando não dá certo”. Ele pôde contar, também, com apoio da família e dos professores.
Forma de estudo
Durante a entrevista, o jovem logo destacou que não é a pessoa indicada para falar sobre técnicas de estudos elaboradas pois, para ele, a forma de estudar é a mais simples e tradicional: ler até entender e praticar. Sem um horário fixo e com o foco em estudar até aprender verdadeiramente os assuntos, sem pressa. “Alguém entendeu, aprendeu o assunto há 200 anos. Por que eu não posso entender? Acho que isso que norteia meus estudos. Eu tenho que estudar até entender. Tinha dias que eu estudava menos, muito normal. Tinha dias que eu só conseguia estudar uma hora e tinha dias que eu conseguia estudar, sei lá, oito horas. Às vezes parece uma montanha russa, né?”, detalha o aluno.
Douglas explica que uma forma robótica de estudo não favorece o aprendizado. Para ele, o ideal era abrir os livros sem pressão, para entender o conteúdo no seu próprio tempo. “Muita gente se prende a muitas técnicas de estudo mas se esquece do principal que é entender. E entender leva um tempo, cada um vai levar seu tempo. Mas aprender de verdade é o principal.”
Além da teoria, o vestibulando ressalta a importância de responder perguntas e praticar aquilo que foi visto. Na visão dele, a teoria tem sua importância, mas fazer questões e responder provas antigas é o que vai situar o estudante no conteúdo e mostrar a realidade daquela teoria. “Quando eu não tinha mais cabeça para ler, eu ia fazer questão, ia fazer prova. Por justamente passar muito tempo assistindo aula, são sete anos, sendo bem sincero, a aula começou a ser uma dificuldade para mim. Não tirando a importância da aula, aula é super importante. Mas começa a ser uma dificuldade você ver aquele mesmo assunto muitas vezes, então as questões e as provas antigas foram o alívio para mim”, relembra o entrevistado.
Sobre o controle da emoção durante a aplicação do Enem, que aconteceu nos dias 5 e 12 de novembro de 2023, Marinho relembra seu nervosismo e ansiedade. Afinal, são dois dias para decidir todo um ano de estudos. O jovem conta que, nesse momento, sua estratégia foi de aceitar estar nervoso e não se preocupar pelo nervosismo. “Eu bati na trave ano passado em medicina, fiquei atrás de três pessoas para passar. Então eu passei o ano com essa carga, com nervosismo durante o ano inteiro, não só perto da prova. Isso é para todos os estudantes. Quando eu cheguei na prova, a minha cabeça tinha 7 anos de pressão”, desabafa.
“A forma de controlar foi aceitando, sabe? Tem gente que fica nervoso por estar nervoso. Fica pensando ‘eu não posso ficar nervoso’ e a ansiedade vai aumentando. Acho que você tem que aceitar um pouco que a ansiedade vai estar lá te acompanhando. Acho que é minha forma de lidar, eu sei que sou uma pessoa ansiosa, mas eu aceito”, continua.
Sabendo da sua condição, o candidato optou por trocar de prova algumas vezes e ir para redação. Caso estivesse com a cabeça cansada para escrever, invertia para responder às questões e assim completava a prova. Além disso, o treino também foi uma ajuda importante para manter o foco no exame, por conhecer a natureza das questões e estar acostumado a resolvê-las. “Se você fez muitas provas antigas, você sabe o que pode errar. Eu sou uma pessoa que tenho muito problema de atenção e por me conhecer, através de questões [eu percebi]. (...) O aluno não pode deixar para se conhecer na hora da prova".
Para Douglas, a edição de 2023 o deixou bem cansado, principalmente a prova de humanas, que ele considerou ‘muito extensa’, em especial na visão dos estudantes. O tema da redação foi, em sua visão, ‘complicado’ por ter muitas especificidades no tema (desafios, invisibilidade, trabalho de cuidado, mulheres, Brasil), mas foi o assunto que já teve um preparo anteriormente, na prática de redação durante o ano.
O sonho depois do Exame
Com a meta de fazer medicina, Douglas Marinho almeja conseguir uma vaga na federal este ano. Sua ideia principal é se manter em Recife, capital pernambucana, no curso da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mas vai ficar de olho no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para ver a possibilidade de uma vaga na Universidade de São Paulo (USP) também.
As áreas já estão sendo pensadas, para o vestibulando três principais chamam a atenção: medicina do esporte, ortopedia e endocrinologia. “São áreas que eu fico encantado, não sei se lá na frente vou mudar, mas são áreas que eu gosto bastante. (...) Creio que dê certo. Vamos esperar o Sisu, não tem nada definido”.
A família é um grande apoio ao rapaz e sempre acreditou nele. Durante a espera da nota, a tensão reinou e, agora, estão comemorando os resultados. Marinho conta que foi uma gritaria dentro de casa, com ele, os dois irmãos, pai e mãe. “Foi uma emoção! Não sei se alguém aqui de casa chorou, eu não cheguei a chorar, né? Mas ficou aquele sentimento, fiquei um ano quebrando a cabeça aqui e durante sete anos… Acho que não caiu a ficha. Talvez quando eu estiver nas primeiras aulas de medicina, caia a ficha no meio da aula”, diz em tom humorístico.
Para os estudantes que irão começar a estudar para o Enem 2024, Douglas aconselha que não robotizem a vida, sem pressão para aprender e que cronometra todo o estudo. Sua principal indicação é que eles foquem em aprender. “Não vou falar para acordar 4 horas da manhã, porque não foi assim que funcionou comigo. (...) Isso de ‘vou estudar duas horas’, quem disse que você vai conseguir aprender em duas horas? Tenha foco em aprender, apenas isso. Vamos fazer o simples, vai tranquilo”, finaliza.
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