Como a questão do Talibã pode ser cobrada no Enem?

Professores explicam como grupo extremista retomou o poder do Afeganistão e de que forma o assunto pode cair no Enem 2021
Afeganistão apos Talibã retomar o poder em 2021 - AFP

Quem vai fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) sabe que a disciplina em que estar informado é essencial é a de atualidades. Ainda que a prova já esteja pronta, assuntos que estejam correlacionados com eventos atuais podem ser cobrados de forma indireta no Enem. A exemplo disso, está o aniversário de 20 anos do atentado às Torres Gêmeas, nos Estados Unidos.

O 11 de Setembro pode ser cobrado ao estar associado com a situação atual do Talibã. Nas últimas horas desta segunda-feira (16), o governo do Afeganistão desmoronou com a volta da milícia fundamentalista à capital, Cabul, após quase 20 anos longe do poder. Com isso, o presidente e ministros se retiraram do país, assim como milhares de civis foram mortos e outros buscam deixar às pressas a nação afegã.

O professor de geografia Marcelo Rocha explica o que é o Talibã, grupo que realizou os ataques. “[O Talibã] É um grupo radical islâmico que interpreta as leis islâmicas de maneira distorcida. Eles querem aplicar o ‘sharia’, onde eles atuam, que é a vertente mais radical, incluindo a questão das mulheres que não podem estudar, só podem sair cobertas (com burca) e com a autorização do marido.”, diz.

“Na metade da década de 1990, por 1995 e 1996, o Talibã chegou a tomar o poder, controlando o país até 2001. Mas com os atentados em 11 de setembro [que envolveu as Torres Gêmeas e o Pentágono nos Estados Unidos] os EUA responsabilizaram Osama Bin Laden e acusaram o Talibã de ter o dado proteção, o que ocasionou na invasão americana no Afeganistão para a retomada de poder. O episódio iria fazer 20 anos agora em setembro”, completa o professor Marcelo Rocha.

“Curiosamente, durante a Guerra Fria, o Afeganistão se viu envolvido com a União Soviética (URSS), o episódio durou quase 10 anos. Os Estados Unidos apoiavam alguns guerrilheiros e insurgentes que queriam lutar contra a URSS e muitos desses que fazem parte do Talibã surgiram com o apoio dos EUA nos anos 90”, ressalva o professor de geografia. “Embora seja, de fato, uma invasão do Talibã ao Afeganistão, isso ocorreu com o consentimento dos Estados Unidos, tendo em vista que tanto o presidente Trump quanto Biden acordaram em retirar as tropas americanas que estavam há quase 20 anos no país. O alto custo financeiro de manter as tropas, o impacto de muitos soldados longe casa, fez com que o pedido fosse solicitado há um tempo. Com a retirada das tropas, abriu espaço para a retomada de poder”, completa Marcelo Rocha.

Sobre o que pode acontecer com a retomada de poder, o professor pontou que tudo ainda é muito incerto. “Não podemos afirmar o que vai acontecer, se eles vão definitivamente tentar voltar o regime ditatorial do passado, da década de 90, aplicando a interpretação do alcorão de forma distorcida. Está aberto para o mundo. A China já se posicionou alegando ter interesse de manter uma relação amistosa com eles, até porque China e Afeganistão compartilham fronteira e Estados Unidos deu a entender que fez um acordo ao retirar as tropas. Não sabemos o que pode acontecer, de repente a Rússia pode chamar o conselho de segurança da ONU para tentar uma intervenção”, esclarece.

O Talibã está associado a uma série de problemáticas de desrespeito aos direitos humanos e fundamentais, como a liberdade. Eles proíbem que as pessoas tenham domínio ou influência de qualquer coisa que seja ocidental, como programas e gestos. Alguns países reconhecem o Talibã como governo legítimo, como o Paquistão, maior parceiro. Para Marcelo Rocha, o que podemos observar nos próximos dias é um aumento no número de refugiados. “Já se espera uma grande reviravolta no mundo, com o aumento no número de refugiados, boa parte da população afegã nesse momento está tentando deixar o país. Para onde vão essas pessoas? Isso irá mexer com a geopolítica do mundo inteiro”, completa o professor.


Para o professor de história Marlyo Alex, o episódio aproximou o Talibã geopoliticamente de outros personagens internacionais que podem servir de sustentação para o futuro arranjo político. “China e Rússia, que em 2001 não tinham a envergadura internacional, hoje possuem vultuosos recursos financeiros aliados a uma diplomacia pragmática por parte da China e enorme poder militar aliados a diplomacia de influência da Rússia. O Irã, que começou com diálogos tímidos, pode ser um possível aliado já que também é isolado por sanções estadunidenses e pode obter benefícios com uma relação anti-americana”, pontua Marlyo.

Como a questão do Talibã pode cair no Enem?
Marcelo Rocha alerta que, ainda que prova já esteja pronta, e o recente episódio não caia, assuntos correlacionados podem ser cobrados. "Esse ano temos os 20 anos do 11 de Setembro, de repente pode estar ou não associado ao Talibã, mas pode ter alguma questão associada ao atentado e a motivação, a captura do líder Bin Landen pelos Estados Unidos”, afirma.

Segundo Marlyo, o Talibã já apareceu em duas questões do Enem, nos anos de 2003 e 2015, ambas envolvendo o tema “Guerra do Terror”, e toda a preocupação de Bush em lidar com o terrorismo no pós 11 de setembro. “O Enem pode abordar tanto questões mais políticas como se preocupar com o fundamentalismo do grupo que passa pela sharia, pela misoginia, anti-ocidentalismo e, como de costume, o terrorismo já presente no nosso imaginário ocidental.”, completa.

COMENTÁRIOS DOS LEITORES