Autores e obras literárias que mais caem no Enem

Dos autores mais pedidos, Machado de Assis e Manuel Bandeira figuram o topo da lista
Machado de Assis é um grande nome na literatura brasileira - Rachel Andrade/LeiaJáImagens

A literatura brasileira é conhecida por autores modernos e contemporâneos, e que são importantes para o reconhecimento da cultura popular no País. Além disso, ela é uma disciplina essencial nos estudos de quem se prepara para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021. Com tantos escritores e obras famosas para estudar, o Vai Cair No Enem conversou com professores de língua portuguesa e literatura, que comentaram os nomes que mais caem no Exame.

Autores

O modernismo é uma das escolas literárias mais emblemáticas da literatura brasileira. Segundo o professor Pedro Santos, é importante se atentar aos nomes mais marcantes do período. 

“Os principais poetas do modernismo, da primeira fase, são Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira. Da geração de 1930, Carlos Drummond de Andrade”, lista o professor.

Santos também menciona os autores da literatura contemporânea que mais são pedidos na prova. “Clarice Lispector, Guimarães Rosa, em especial Grandes Sertões Veredas, e o pernambucano João Cabral de Melo Neto, dono de uma estética que tangia a matemática e das temáticas sociais, em especial do Rio Capibaribe”, explica.

Machado de Assis

Segundo a professora Beth Andrade, o autor tem destaque por ser “um clássico brasileiro, que transita entre o Romantismo e o Realismo''. “Já aconteceu de caírem perguntas no Enem sobre as obras ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ e ‘Quincas Borba’. Outro livro indispensável é ‘Dom Casmurro’, pois levanta uma boa discussão e conta muito com a interpretação do leitor”, comenta a docente.

Manuel Bandeira

Pedro Santos faz um destaque ao autor pernambucano, que esteve presente na Semana de Arte Moderna de 1922. Pedro Santos explica que ele é autor de um célebre poema lido durante a Semana no qual fazia sérias críticas ao parnasianismo, o poema ‘Os Sapos’, lido por Ronald de Carvalho:

"O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio."

(Manuel Bandeira)

“Dono de uma lírica única, Bandeira é assunto certo no Enem. Sua poesia já nos abrilhantou com diversas questões, contudo é interessante entender um pouco de suas características poéticas”, o professor comenta.

Santos lista os seguintes detalhes sobre o trabalho de Bandeira: "ele teve um papel crucial na solidificação do modernismo no país; produziu poemas com versos livres, linguagem coloquial, irreverência e liberdade criadora; extraia poesia das coisas mais comuns do cotidiano; abordou diversos temas em suas poesias, dos mais banais aos mais elogiados pela arte, tais como a doença que ele contraiu (a tuberculose), o quarto, a cidade do Recife, o jornal, a cultura popular, entre outros".

A Pasárgada de Bandeira

Seu poema mais ovacionado está no livro "Itinerário de Pasárgada", considerado pela crítica uma autobiografia lírica de Bandeira. Pasárgada é para o poeta o espaço de fuga da realidade, da fantasia, que o faz compensar suas frustrações, lá tudo podia acontecer e ele, então, se realizaria enquanto sujeito. 

"Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive"

"Novos autores"

O professor Pedro Santos ainda menciona movimentos atuais que também podem cair na avaliação. “O Enem tem se tornado uma estante para novos poetas e prosadores, mostrando que a literatura não está rígida nos livros didáticos. A poesia marginal vem tendo muito destaque, aqui em Pernambuco temos um grande poeta marginal, Miró, por exemplo”, ele sintetiza.

Para compreender como uma questão pode abordar autores e obras, o professor Pedro Santos responde e comenta uma questão do Enem 2011:

Estrada

Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.’

BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para:

A) desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
B) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural.
C) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
D) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
E) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.

Análise da questão: Observa-se no poema a percepção da efemeridade da vida (últimos versos), assim como o poema se pauta em revelar o contraste entre o campo e a cidade. Observando no poema a elucidação de fatos do cotidiano rural, mesmo em um tom de monotonia. Sendo assim, a letra 'B' é a mais cabível para a resposta da questão.

Santos ainda recomenda uma leitura importante do autor. “Falar de Bandeira é afundar-se num lirismo profundo e único em nossa literatura. Aconselho a leitura de sua coletânea de poemas Estrela da Vida Inteira (1965); nesse exemplar vocês encontrarão uma face quase íntima do autor com seu leitor. Leiam, pois não existe resumo que conseguirá passar o que Bandeira. Só este contato, também íntimo, com os poemas do autor, revelarão essa face tão brilhante do nosso Manuel Bandeira”, ele conclui.

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