10 expressões racistas que você não deve usar na redação do Enem e em lugar nenhum

O racismo também se reflete no vocabulário, onde há termos que perpetuam a discriminação contra a população afrodescendente e ainda podem causar penalização na redação do Enem
A competência 5 da redação do Enem pede respeito à dignidade humana, a igualdade de direitos e o reconhecimento e valorização das diferenças e diversidade - Unsplash

“A coisa tá preta", “denegrir”, “doméstica”... Você costuma usar essas expressões? É importante saber que o racismo é um tipo de discriminação que nem sempre é perceptível, você pode reproduzir essa prática até mesmo no seu vocabulário. Isso porque existem certos termos que contêm em si uma etimologia discriminatória, de modo você deve se preocupar em bani-los tanto do seu dia a dia, quanto da sua redação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). 

Na cartilha do participante, a competência cinco estabelece que a proposta de intervenção do candidato deve respeitar os direitos humanos, sob risco de penalização. O documento também indica certos princípios que o candidato deve seguir na escrita do seu texto. Entre eles, estão o respeito à dignidade humana, a igualdade de direitos e o reconhecimento e valorização das diferenças e diversidade.

Desaprender esses preconceitos sutis, não é fácil. Devido a um processo histórico marcado pela escravidão e marginalização das pessoas pretas, a discriminação racial se incorporou a diversos aspectos da sociedade, alguns de forma escancarada, outros de maneira disfarçada. Muitos estudiosos do tema conceituam o termo “racismo estrutural” para designar um conjunto de práticas institucionais, históricas, culturais e interpessoais enraizadas na sociedade que perpetuam a subjugação da população afrodescendente .

Essa forma de naturalização do racismo também se reflete na linguagem. Existem diversas palavras e expressões em que foram atribuídos aos significados etimológicos valores históricos ofensivos à população negra. Esses termos, além de ofender e sujeitar essa minoria social, também relembram o passado sombrio e desumano vivido pelos seus ancestrais escravizados. 

O professor de linguagens e redação, Diogo Xavier, explicou um pouco o caráter discriminatório dessas falas: “Por mais que alguns termos sejam ressignificados com o passar do tempo, aqueles que têm origem nas dores de grupos sociais oprimidos carregam um sentido negativo e perpetuam a discriminação contra quem vive isso na pele. Assim, na redação do Enem, é preciso ter cuidado para não reproduzir estereótipos ou sustentar a discriminação, sob a pena de ter a competência 5 zerada. Essas expressões de cunho racista devem ser evitadas e substituídas por termos correspondentes.”

O docente, também selecionou dez expressões que o estudante deve banir da redação na prova do Enem. Confira quais são elas:

Denegrir: O termo tem um caráter pejorativo, associando “tornar negro” a algo negativo.  Pode ser substituído por palavras como difamar, caluniar, injuriar

Feito nas coxas: no período escravocrata, as telhas eram feitas nas coxas de pessoas escravizadas, sendo, portanto, irregulares devido à variação dos corpos. A expressão é usada para representar um trabalho feito de qualquer jeito. Pode ser substituído por mal feito

Mercado negro: Muito usado para se referir a um sistema de compras e vendas clandestino, ilegal, corrupto. O estudante pode substituir por mercado clandestino.

Da cor do pecado: esta expressão racista disfarçada de elogio está relacionada a erotização e objetificação das mulheres pretas escravizadas, que eram, frequentemente, estupradas por seus senhores. Os mesmos justificavam a violência afirmando que elas tinham algo tentador, a que eles não podiam resistir. O uso da expressão deve ser abolido. 

Criado mudo: referência aos criados, normalmente escravizados, que ficavam em pé calados perto de seus senhores, segurando objetos ou esperando um comando. Pode-se usar: mesa de cabeceira

Doméstica: as mulheres escravizadas que trabalhavam dentro da casa grande eram consideradas “domesticadas”, daí o termo, que pode ser substituído por empregada, funcionária, cuidadora do lar

Humor negro: usado para se referir a um tipo de humor mais agressivo, com piadas de mal gosto, temas mórbidos, sérios ou tabus. Mais uma vez relacionando o que é negativo a negritude. Você pode usar: humor ácido.

A coisa tá preta: o termo associa “preto” a situação desconfortável, desagradável, ruim, difícil ou perigosa. Pode ser usado a situação está difícil.

Escravo: o termo objetifica e desumaniza os negros que foram trazidos à força e tiveram sua subjetividade e história apagadas, além de passar uma ideia de passividade, aceitação. Tem-se dado preferência às expressões: pessoas escravizadas ou em condição de escravização. 

Mulato: deriva de mula, resultado do cruzamento de um asno com uma égua. Foi usado no período da escravização para se referir aos descendentes das mulheres negras estupradas por seus “senhores”, que tinham filhos mestiços. Os termos pardo ou mestiço são mais aceitos.

Descobriu termos racistas que você nem fazia ideia do significado? Saiba que isso é comum, o racismo foi tão naturalizado no cotidiano que até o vocabulário carrega discursos opressivos. Para evitar esses erros no Enem e na sua vida como um todo, a  grande dica é sempre buscar conhecimento e se dispor a ouvir o que a população negra tem a dizer.

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