Opcional no Novo Ensino Médio, Espanhol estará ausente no Enem 2024

Apesar da ausência, entidades lutam pela permanência da disciplina no exame
Língua Espanhola faz parte da prova de Linguagens - Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

Apresentado em março, o Novo Enem traz mudanças para o Exame Nacional do Ensino Médio a partir de 2024. Entre as principais modificações, estão a presença de itens abertos e divisão em quatro áreas do conhecimento. A reformulação da avaliação, que é a principal porta de entrada no ensino superior, é reflexo da grade curricular do Novo Ensino Médio, que iniciou neste ano em escolas públicas e privadas. 

Durante a apresentação do novo modelo, realizada pelo Ministério da Educação (MEC) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foi salientado o caráter interdisciplinar na abordagem da disciplina de língua inglesa. No entanto, o Novo Enem, assim como o atual currículo do ensino médio, deixam de fora o espanhol, que é a escolha no exame de cerca de 60% dos candidatos, de acordo com dados do Inep.

Idioma predominante na América do Sul, o ensino do espanhol só passou a ser ofertado de forma obrigatória na educação básica em 2005. À reportagem, a professora da disciplina, Kilza Pascoal, ressalta que a língua estrangeira é elegida por mais da metade dos participantes do exame e isso tem relação com a "proximidade com o português". Para a docente, a ausência do idioma "significa uma drástica diminuição no número de intercâmbios e também impactos no mercado de trabalho", aponta. Na análise de Kilza, a principal motivação para a exclusão da língua espanhola tanto do Enem quanto do currículo do Novo Ensino Médio é de viés político. "A política linguística sempre esteve relacionada à política financeira e isso reflete nas línguas estrangeiras que são inseridas no currículo escolar". 

#FicaEspanhol

Desde 2016, o movimento #FicaEspanhol luta pela permanência da disciplina na grade curricular do ensino médio. Por meio de publicações nas redes sociais e articulações, o movimento ganha força e conta com apoio da  Associação Brasileira de Hispanistas (ABH), que publicou uma nota de repúdio sobre a retirada da língua estrangeira do Enem em 2024. 

"Na defesa por uma educação linguística plural e coerente com a realidade sócio-histórico-cultural brasileira, manifestamos nosso desejo pela revisão das bases que compõem os instrumentos de avaliação da Formação Geral Básica do Novo Enem. Consideramos que o exame não pode pautar-se somente em interesses neoliberais presentes na BNCC, mas sim por princípios sociais e plurais que orientam a diversidade escolar brasileira", diz trecho do comunicado.

De acordo com Kilza, o objetivo é que o MEC "possa reconhecer, através dos manifestos, a importância da língua espanhola e que mantenha sua permanência no Novo Enem", explica.  E acrescenta: "Acreditamos na possibilidade de revogação da decisão por parte do MEC com a mesma intensidade que acreditamos em uma educação plurilíngue e democrática".

Impactos da ausência do espanhol no Novo Enem

Ao Vai Cair No Enem, Kilza Pascoal pontua os principais impactos da saída da disciplina na reestruturação do Exame Nacional do Ensino Médio. "O afrouxamento das relações que mantemos com nossos vizinhos, os estudantes da rede pública perderão a oportunidade de aprender mais uma língua estrangeira, professores de língua espanhola serão prejudicados pela falta de oferta de emprego. Além de tudo isso, há o desrespeito com os mais de 60% dos candidatos que não possuem nenhuma afinidade com a língua inglesa e optaram pelo espanhol no Enem". 

A reportagem questionou o MEC e Inep sobre a ausência da disciplina na avaliação mais de uma vez, no entanto, não tivemos retorno até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto.

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