Entenda como usar músicas de São João na redação do Enem

Aprenda a usar trechos de canções para reforçar seus argumentos
- Fotos: Janine Moraes/MinC

Por Lara Tôrres

Nos nove estados que formam a região Nordeste do Brasil (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), o mês de junho é marcado por festividades do começo ao fim. 

A tradição de louvar a Santo Antônio, São João e São Pedro é de grande importância econômica e cultural para a região, dando relevância às celebrações repletas de música, dança, comidas típicas - derivadas principalmente do milho - e vestimentas trabalhadas.

Tudo isso pode ser útil no momento de fazer a sua redação do Enem, onde é possível usar músicas e exemplos relacionados às festas juninas para dar mais força aos argumentos dos participantes. Para saber como você pode pensar no São João e aplicá-lo no seu texto, confira dicas dos professores de redação Marcela Silva e Isaac Melo.

Lirismo e dor

O professor Isaac Melo explicou que muitos temas permitem o uso de argumentos ligados a músicas de ritmos como o forró (tanto o “pé-de-serra” quanto o “forró universitário”), xote, xaxado e baião, muito populares durante as festividades juninas, e que servem como ferramenta de culto aos santos e, sobretudo, de expressão da dor sertaneja.

Um dos exemplos que ele deu foi a música “A triste partida", do ano de 1964, famosa na voz de Luiz Gonzaga e escrita pelo poeta cearense Patativa do Assaré, que diz “assim fala o pobre \ do seco Nordeste \ com medo da peste \ da fome feroz".

De acordo com o professor, os versos unem lirismo e um tom trágico ao falar de temas como a seca, fome e migração forçada no interior de estados da região Nordeste. “Na música de Luiz Gonzaga, Rei do Baião, por exemplo, estão os versos de maior lirismo e, ao mesmo tempo, tom trágico, para assuntos como a seca, a fome no interior nordestino, a necessidade de migração para o sudeste em tempos de completa escassez de alimentos para o povo dessa região”, disse Isaac.

O professor também enfatiza que estamos diante de um ritmo, o baião, “legítimo das tradições juninas e nordestinas, que aborda temas caros e lamentáveis que não morreram em 1964”, pois, infelizmente, “ainda é possível escrever sobre a fome, a pobreza, a situação de rua, usando versos como esses de ‘Triste partida’ na redação do Enem”.

Além disso, o professor Isaac apontou temas que lidam com identidade cultural, valorização das tradições brasileiras, a arte como ferramenta de variação linguística e o legado cultural cristão do Brasil português também podem se relacionar com a música.

Novos ritmos e temas

Outros temas de redação também permitem falar sobre músicas que fazem sucesso durante o São João. Segundo o professor Isaac Melo, o processo de “maquinização” do forró, fortemente incentivado pelas indústrias culturais é “uma forma de massificar, banalizar letras e lucrar com uma descaracterização da música tradicional”.

Isso ocorre com o chamado “forró universitário”, que tem um timbre mais eletrônico nos arranjos musicais e trata de assuntos diferentes do ritmo mais tradicional.

Enquanto convidam para dançar o bom e velho “dois para lá e dois para cá" essas músicas apresentam letras com, segundo Isaac, “clara apologia ao uso desenfreado de bebidas alcoólicas, à glorificação de produtos de grandes marcas, à ostentação vazia, ao descarte afetivo”.

Assim, temas como o uso precoce de bebidas alcoólicas por adolescentes, a indústria cultural como propaganda de um estilo de vida líquido, de acordo com o professor, podem ser exemplos em que o uso das canções sirvam como base.

Como usar as músicas no texto?

A professora Marcela Silva também destacou a frequência de temas como a seca, migração forçada pelo clima e a dificuldade de acesso à educação no Sertão são frequentes em músicas de cantores como Luís Gonzaga, Elba Ramalho e Gonzaguinha, por exemplo.

“Na prova do Enem já apareceram diversas vezes questões com músicas de Luiz Gonzaga. Pega uma música e analisa o contexto da seca, da imigração, e tudo isso pode ser utilizado na redação também”, explicou Marcela.

Além disso, a professora acrescentou um ritmo à lista de possíveis citações na redação, abrangendo artistas de outras regiões do país. “Há também a possibilidade de usar músicas do Sul. Como o sertanejo, que a gente tanto conhece, também seria uma ótima possibilidade”, disse a professora.

Marcela enfatiza que mais importante que o tipo da música, é que os participantes saibam como utilizá-las no texto, pois para usar uma música na redação. Segundo a professora, é importante que o estudante faça uma referência “a quem está cantando ou ao compositor e explicar o contexto em que essa música foi criada”.

Para exemplificar, a Marcela Silva contou sobre o texto de uma aluna que utilizou um trecho da música “Esquema Preferido”, de Tarcísio do Acordeon e  DJ Ivis, ligando a problemática da mobilidade urbana à letra da música. 

A professora explicou que há duas maneiras de se fazer essa referência no texto. A primeira, é fazendo uma citação direta, “pegar um trecho da música e utilizar” na redação, entre aspas. Outra opção é a citação indireta. “Pode fazer assim: ‘Na música Asa Branca, do cantor Luiz Gonzaga, fica evidente a escassez de água no Sertão e o protagonista precisa ir morar em outro lugar’, enfim, explicar sobre o que a música fala de modo resumido”, disse Marcela.

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