Distribuição aleatória de provas, início antes do horário e lotação de banheiro: candidatos relatam falhas dos fiscais no primeiro dia do Enem 2022

Participantes relatam condutas atípicas de fiscais
Prova do Enem - Paulo Uchôa/LeiaJáImagens/Arquivo

No último domingo (13), mais de dois milhões de estudantes, de acordo com informações preliminares do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), realizaram o primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022. Na ocasião, os estudantes responderam a quesitos 90 quesitos de Linguagens e Ciências Humanas, além de uma redação. 

Após a finalização da primeira etapa, candidatos relataram, nas redes sociais, falhas cometidas por fiscais durante a aplicação do exame. Em entrevista ao Vai Cair No Enem, Paulo Mateus, cujo local de prova é a Escola Estadual Marcelina Maria da Silva Oliveira, localizada na cidade de Mauá, em São Paulo, relatou algumas condutas atípicas.  

“As ocorrências começaram já no momento de distribuição das provas. Uma das aplicadoras, que não sei explicitar o cargo, disse 'mostra o pacote lacrado, as provas todas juntas, abre e depois distribui do jeito que te expliquei'. A Chefe de Sala fez o que foi pedido e já na hora da distribuição começou a aleatoriamente distribuir as provas, mesa a mesa, em zigue-zague. Somente depois, quando questionada por candidatos em relação os dados da prova não condizer com o nome de cada, ela recolheu as provas, que já tinha distribuído, e disse 'ah! é mesmo, né? Eu tenho que ler o nome de vocês para saber de quem é quem. Me devolvam por favor', disse. 

De acordo com Paulo, que tentará uma vaga no curso de direito da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a ação contraditória da aplicadora gerou espanto entre os candidatos. Contrariando as informações do edital do exame, os participantes foram orientados a iniciar a prova antes do horário. “Momentos depois, outro fiscal entrou na sala questionando o que estava acontecendo e por que já estávamos fazendo a prova. A chefe de sala disse que seguiu as orientações da outra fiscal”, relembra. 

À reportagem, Paulo relata que muitas pessoas já estavam preenchendo o gabarito quando o chefe de sala pediu para que todos parassem e fechassem os cadernos de questões. “Ele fez com que todos fechassem a prova e só retomassem 13h30, não sei precisar exatamente quanto tempo esperamos, mas foi pouco, em torno de cinco minutos com a prova fechada para retomá-la”, conta.

Poucos fiscais 

Questionado sobre o quantitativo de pessoas responsáveis pela aplicação e fiscalização do Enem na escola, o candidato explica que na sala só havia uma fiscal e os demais ficavam transitando pelo local, sem lugar fixo. Devido ao número reduzido, Paulo expõe que enfrentou problemas para usar o banheiro. “Pedi para ir ao banheiro e ela [fiscal] pediu para eu esperar e chamou alguém atrás dela, continuei fazendo minha prova. Passados alguns bons minutos, a vontade apertou. Nesse momento, pedi novamente para ir ao banheiro de maneira mais insistente, ela disse que precisaria esperar que a 'outra menina"' voltasse”, relatou.

Já impaciente pela espera, Paulo Mateus solicitou, mais uma vez, para utilizar o banheiro. “Pedi de maneira extremamente incisiva para a fiscal, com urgência, para ir ao banheiro e disse que não conseguia mais esperar, que faria ali mesmo. Ela saiu e disse novamente que precisava de algum outro fiscal para levar-me ao banheiro. Passado mais cinco minutos, aproximadamente, chegou o responsável pelo Inep na escola para me levar ao banheiro”. 

E complementou: “Quando sai para ir ao banheiro a chefe da minha sala tinha retornado já, e quando esse coordenador geral de aplicação da escola chegou perguntando quem queria ir ao banheiro, além de mim mais cinco pessoas se levantaram. Da outra sala saíram mais quatro e de outra mais cinco. Todos juntos fomos ao banheiro acompanhado por ele. Minha chefe de sala ainda questionou se todos iriam juntos e ele disse que sim, que não nos deixaria esperando mais’. 

Sem noção de tempo 

Nas salas de aplicação do Enem são disponibilizadas placas, que são retiradas ao longo da prova, para que os estudantes tenham noção de tempo. No entanto, Paulo afirma que a fiscal não realizou, em um primeiro momento, a contagem do horário. “Me atrapalhou, pois, eu já na situação horrível que estava, ainda perdi a noção do tempo de prova que havia passado. Somente quando chefe de sala retornou é que ela ajustou o relógio”, desabafa. 

Além dele, outros candidatos relatam o mesmo caso. Confira:

 

 

 

Sentindo-se prejudicado, Paulo cogitou fazer um boletim de ocorrência contra a Fundação Cesgranrio, que é responsável pela aplicação da prova. Eu pensei em imediatamente registrar boletim de ocorrência na delegacia on-line contra a Cesgranrio, mas precisa da razão social, CNPJ, nome do responsável, enfim, dados que eu não tenho em mãos, e também colocaria o INEP como coautor no B.O., mas além de tudo o boletim eletrônico só aceita 1500 caracteres. Só aqui o que eu escrevi já dariam umas 5 páginas de depoimento, preferi não fazer o B.O. on-line", esclarece. 

Ao Vai Cair No Enem, ele conta que tentará a reaplicação do primeiro dia da avaliação. “É um desrespeito com os candidatos do Enem essas situações, eu sei que muitas situações acontecem desse tipo, até mais prejudicais, e muitos desistem de irem atrás desse direito”, fala.  

O que diz o Inep 

Por meio de nota, o Inep garante que “conduz, anualmente, todas as medidas a fim de garantir uma aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com sigilo e segurança, objetivando a isonomia para os milhões de inscritos”. Além disso, o instituto ressalta que o exame conta “com quase meio milhão de pessoas, entre os processos de elaboração, impressão, armazenamento, distribuição e aplicação das provas’. 

Ainda segundo o Inep esta edição conta com “11 mil locais de prova são utilizados na aplicação do exame, em cerca de 12 mil coordenações, o que representa cerca de 153 mil salas. Entre os profissionais envolvidos, são em torno de 30 mil fiscais volantes, 44 mil fiscais de banheiro, 12 mil coordenadores de local e 153 mil chefes de sala. Além disso, fazem parte da aplicação por volta de 1800 coordenadores municipais, 44 coordenadores estaduais, 12 mil assistentes de local, 44 mil aplicadores regulares e 15 mil aplicadores especializados”. 

Sobre a formação disponibilizado pelo órgão aos ficais do Enem, o instituto salienta que todos os profissionais passam por capacitação “com o intuito de padronizar os procedimentos”. “Cabe destacar que, além de monitorar a operação por meio de servidores do Inep deslocados em todo o território nacional, o Instituto também conta com a colaboração de cerca de 30 mil servidores inscritos da Rede Nacional de Certificação (RNC)”.

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