Aos 49 anos, mulher realiza o sonho de passar em medicina em uma universidade pública

Janecleia Maia é de Petrolina, em Pernambuco, e pretende arrecadar fundos para estudar em Salvador, na Bahia, através de uma vakinha virtual
Janecleia Sueli Maia Martins, caloura da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) - Aquivo pessoal/Cortesia

Por Mariana Ramos

Moradora de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, Janecleia Sueli Maia Martins é casada, mãe de dois filhos e, aos 49 anos, foi aprovada no curso de medicina pela Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Salvador. O sonho de ser médica começou ainda pequena, aos 10 anos de idade, 39 anos depois, ela conseguiu realizá-lo. A história ganhou a internet esta semana. 

Em conversa com ao Vai Cair no Enem, Janecleia, que prefere ser chamada de Jane, relata que nunca pensou em desistir. “Houve momentos em que eu fiquei mais fraca, um pouco desanimada. Principalmente na época que meu pai faleceu, eu fiquei muito desmotivada e pensei em parar com tudo, mas realmente desistir, jamais”, conta.

De 2010 até 2023, a pernambucana participou de todas as edições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e perdeu as contas de quantos vestibulares prestou para realizar seu sonho de infância. Jane conta que sempre batalhou para estudar e com bolsas em cursinhos ia agregando conhecimento e somando aprendizado.

Ao ver que finalmente conseguiu passar no tão desejado curso, a estudante afirma que viveu um “misto de surpresa e de felicidade extrema”, não esperava ver seu nome na lista e, morando no interior de Pernambuco, não sabia como iria conseguir chegar até a capital baiana. “Eu fiquei extremamente surpresa e nervosa, depois veio um misto de apreensão porque eu não tinha um centavo para ir levar a documentação, porque para garantir minha vaga eu teria que ir à Salvador e levar toda minha documentação para comprovar que eu sou de baixa renda, de escola pública a vida inteira”, relata.

Apesar dessa dificuldade financeira, Jane conseguiu o apoio de amigos e familiares para pegar uma passagem apenas de ida para Salvador e confirmar sua matrícula, a volta seria resolvido depois. Tudo foi feito na correria, pois ela tinha apenas 48h para se apresentar na universidade.

“Eu fiquei em êxtase de alegria. Quando cheguei [em Salvador] realmente caiu a ficha que eu realmente passei. Quando eu entreguei a documentação, quando eu vi que estou matriculada, aí foi que eu desabei a chorar”, narra Janecleia.

Agora, a caloura de medicina deseja se entregar de coração ao curso que sempre foi seu sonho. A realidade financeira ainda é um problema, a estudante teme não ter condições de se manter, mas que se aparecer oportunidade, irá atrás de conseguir um bônus para suas despesas básicas.

“Se surgir uma folguinha, tiver um tempinho e alguém me chamar para fazer uma faxina, para dar uma aula de reforço, para passar uma roupa, para o que quiser desde que seja um serviço honesto, eu farei com toda certeza para poder ter recursos para continuar seguindo o meu sonho”, comenta a pernambucana.

 

Vakinha virtual
 

Vivendo seis anos longe da família, a filha de Jane teve a iniciativa de abrir uma Vakinha virtual para arrecadar doações para mãe que precisa se sustentar em um novo estado. A Vakinha já arrecadou mais de R$ 22 mil, o que vale cerca de 73% do valor total e ainda recebe doações através do link.

Quando finalizar seu curso, Jane deseja aprender minuciosamente como cuidar das pessoas. “Lá no futuro, quando eu terminar, que será em breve, quero atender as pessoas com dignidade, com decência, educação”, afirma a futura médica.

“O que eu quero deixar de mensagem para essa galera jovem é que deixem de ser imediatistas, aprendam a ter paciência, fé e perseverança. Sonhem e, aos que querem alcançar através da educação, estudem (...) e tracem metas que vocês alcançaram todos os objetivos que quiserem”, finaliza Janecleia Maia

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