Fatos sobre o 7 de setembro que podem cair no Enem

Professores prepararam explicações para quem mira um grande resultado na prova de história
"O Grito do Ipiranga", quadro de Pedro Américo - Daniel Jorge Filho/Flickr

“Independência ou morte!”. A frase célebre, dita por Dom Pedro I, às margens do Rio Ipiranga, mudou a história do Brasil por marcar a independência do País do poder de Portugal. O fato, bastante estudado tanto por pesquisadores quanto nas escolas, é um assunto importante na disciplina de história, além de ser uma temática que pode cair no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021.

Para ajudar os estudantes a compreenderem os desdobramentos do movimento no século XIX, que culminou, em 1822, na emancipação do Brasil da coroa portuguesa, o Vai Cair No Enem conversou com alguns professores de História, que explicaram detalhes do contexto da época.

Análise do contexto

Segundo a professora Thais Nunes, é preciso compreender o que já estava acontecendo antes de 1822. Ela analisa a data como uma construção de outros fatos. “Antes de qualquer coisa, devemos voltar ao ano de 1808, que carrega uma série de mudanças para os ares portugueses e brasileiros. A Chegada da Corte Joanina ao Rio de Janeiro é o início do fim da relação colonial entre Portugal e Brasil, já que, a lógica do monopólio comercial, uma das principais características do famoso Pacto Colonial se vê ameaçada com a Abertura dos Portos às Nações Amigas, decreto que beneficiou a Inglaterra, já que era uma das poucas “Nações amigas” que a colônia possuía. Além de que, no ano de 1815, o Brasil deixa a condição de colônia para trás quando é elevado a Vice-Reino de Brasil, Portugal e Algarves”, pontua.

O professor Hilton Rosas ainda aponta o contexto político europeu, que refletia diretamente na conjuntura política do Brasil, já em 1822. “Naquela ocasião, o retorno da Família Real e a Revolução Liberal do Porto configuravam uma tensão em manter o Brasil um reino unido a Portugal ou condicioná-lo a uma recolonização”, ele explica.

Segundo Rosas, os tensionamentos em Portugal repercutiram no Brasil entre os latifundiários, que viam a autonomia do País como ponto de interesse. “A recolonização e o retorno do pacto colonial interferiam nos interesses das elites aristocráticas. Isso fez com que os senhores, donos de terras, interviessem a favor da independência”, diz o docente.

Economia

Hilton Rosas explica que, para obter o reconhecimento da independência, Portugal exigiu uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas, que era o valor da dívida portuguesa com os ingleses.

O professor José Carlos Mardock complementa que o Brasil teve de recorrer a empréstimo para arcar com esse acordo. “Os cofres brasileiros estavam vazios desde a volta do rei para Lisboa, e Dom Pedro teve que recorrer à Inglaterra, que exigiu um tratado comercial para emprestar dinheiro, e então surge a dívida externa brasileira. Conquistamos nossa independência política, mas caímos numa dependência econômica diante a Inglaterra”, explica.

Conflitos armados

Mardock também analisa que o processo de independência do Brasil não se deu de forma pacífica. “Entre os anos 1822 e 1825, o império teve de enfrentar a resistência nas províncias do Pará, Bahia, Piauí, Maranhão e Cisplatina, atual República Oriental do Uruguai. Dessa maneira, o Governo precisou combater os opositores. Dom Pedro II contou com a ajuda financeira da Inglaterra que serviu para compra de armas, navios e para contratação de mercenários”, ele destaca.

Pintura encomendada

Outro fato interessante que o professor destaca é a famosa pintura feita pelo pintor Pedro Américo, "O Grito do Ipiranga". De acordo com o docente, a obra foi feita décadas após a independência do Brasil, como uma tentativa de melhorar a imagem do País. “O quadro foi pintado na Itália, por encomenda do império, e entregue em 1888, ou seja, 66 anos depois da proclamação. O pintor da obra nem era nascido em 1822. Era muito comum essas encomendas serem maquiadas para receberem pompas que de fato não ocorreram”, explica Mardock.

“Só que no caso específico do Brasil, essa pintura foi encomendada porque o império, na formação de segundo reinado, já estava dando provas do seu desgaste. Então, esse quadro e essa valorização foram uma tentativa de o imperador Dom Pedro II tentar recuperar a imagem do segundo reinado, mas como todos sabem, veio a Guerra do Paraguai, a questão religiosa, a questão abolicionista e não houve jeito. A pintura desse quadro e as celebrações não conseguiram fortalecer a imagem do império, do segundo reinado e do Brasil, daí 15 de novembro de 1889 houve a Proclamação da República”, pontua Mardock.

Construção histórica

Thais Nunes ainda destaca que o acontecimento do 7 de Setembro não se deu em um único dia. “O processo de independência tem continuidade e marcos importantíssimos desde o retorno de D. João VI à Lisboa, dentre eles temos o dia do Fico, 9 de janeiro de 1822, quando D. Pedro I declara, segundo o jornal Gazeta do Povo ‘Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que Fico!’. Desse modo, vemos o que tem como marco comemorativo o 7 de setembro e é sempre importante ressaltar que a história é feita de processos. O dia 7 de Setembro é um marco, mas temos de levar em consideração sempre que tudo é uma construção”, ela finaliza.

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