Anunciado como mais uma forma de acesso ao ensino superior, Enem Seriado se mantém no esquecimento

O projeto foi proposto pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, e pelo ex-presidente do Inep, Alexandre Lopes, em 2020
A modalidade faria parte do novo Sistema de Avaliação da Educação Básica, o Saeb - Júlio Gomes/LeiaJáImagens/Arquivo

Anunciado em maio de 2020 pelo Ministério da Educação (MEC) e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) Seriado não alavancou e não tornou a virar pauta nesses últimos dois anos. O projeto foi proposto pelo ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, e pelo ex-presidente do Inep, Alexandre Lopes, e chegou a ser indicado como "mais uma porta de entrada no ensino superior", afirmou Lopes na época.

A modalidade faria parte do novo Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e seria aplicado no final de cada ano do ensino médio, ou seja, os estudantes fariam três provas, uma por ano, até a conclusão da etapa educativa. A nota obtida, que seria uma média das avaliações, seria usada para pleitear vagas em universidades, como também, participação no Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).

As informações preliminares indicavam que o exame seriado seria totalmente digital e teria as disciplinas de matemática e português como base, assim como já é característico do Saeb. Além disso, o início do projeto estava previsto para 2021 e não descartaria a aplicação do exame tradicional.  Com o anúncio do Novo Enem na última semana, a possibilidade de que a modalidade seriado retorne aos planos do MEC, que não fala mais no assunto, estão cada vez mais remotas.

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“Enem Seriado não trazia novidades”

Para Francisco Souza, especialista em Educação, o formato do exame proposto em 2020 não era interessante, muito menos, apresentava grandes mudanças. “Quando o Enem seriado foi proposto, percebeu-se que o modelo repetia a fórmula dos vestibulares seriados, a exemplo do SSA, da UPE”, aponta. Além disso, o especialista ressalta que a modalidade “não trazia novidades”.

Na visão de Souza, a reestruturação do Enem, que segue a grade curricular do Novo Enem, deve afastar mais ainda a possibilidade da aplicação da avaliação de forma seriada. “Com a chegada do Novo Enem, mesmo previsto para 2024, afasta-se a aplicação do formato seriado. Os órgãos já acumulam alguns formatos do exame, o impresso, digital, que ainda não está totalmente consolidado, o PPL, que é destinado às pessoas privadas de liberdade. Então, tudo isso envolve investimento financeiro. Temos a questão do banco de questões, que já foi apontada uma defasagem de quesitos", aponta.

E complementa: "Não há planejamento, pelo menos, nunca foi citado nesses últimos dois anos, não se fala mais no assunto. Além disso, com as polêmicas que cercam o ministério e, principalmente, Milton Ribeiro [ministro da Educação] também podem ser um agravante para que o projeto não saia do papel”.

A coordenadora pedagógica, Ivone Prata, explica à reportagem que a reestruturação do Enem era necessária e não descarta a possibilidade do modelo seriado voltar aos planos do MEC e Inep. "Tudo é muito imprevisível. Esperávamos o edital do Enem Seriado, datas, formato e sua primeira aplicação neste ano, mas os órgãos trouxeram mudanças, que nada lembram o exame por etapas do ensino médio. Entretanto, na minha análise, o Novo Enem não inviabiliza a realização do seriado. Porém, em caso de retorno aos planos do MEC e Inep, deve ser muito bem pensado, com uma boa logística, elaboração das questões, edital e tudo que permita a avaliação transcorra sem intercorrências", explica.

 O Vai Cair No Enem entrou em contato com o ministério, assim como, com o Inep, para falar sobre o assunto. No entanto, até o fechamento da matéria, não tivemos retorno. O espaço segue aberto.

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